ARTIGOS
Visão de Divaldo Franco sobre velórios
Diante do corpo de alguém que demandou a Pátria Espiritual, examina o próprio comportamento, a fim de que não te faças pernicioso, nem resvales pelas frivolidades, que nesse instante devem ser esquecidas.
O velório é um ato de fraternidade e de afeição aos recém-desencarnados que, embora continuem vinculados aos despojos, não poucas vêzes permanecem em graves perturbações.
Imantados à organização somática, da qual são expulsos pelo impositivo da morte, que os surpreende com o “milagre da vida”, não obstante em outra dimensão, desesperam-se, experimentando asfixia e desassossegos de difícil classificação, acompanhando o acontecimento, em crescente inquietude.
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Raras pessoas estão preparadas para entender o fenômeno da morte, ou possuem suficientes recursos de elevação moral a fim de serem trasladadas do local mortuário, de modo a serem certificadas do ocorrido em circunstâncias favoráveis, benignas.
No mais das vêzes, atropelam-se com outros desencarnados, interrogam os amigos que lhes vêm trazer o testemunho último aos despojos carnais, caindo, quase sempre, em demorado hebetamento ou terrível alucinação…
Em tais circunstâncias, medita a posição que desfrutas nos quadros da vida orgânica, considerando a inadiável imposição do teu regresso à Espiritualidade.
Se desejas ajudar o amigo em trânsito, cujo corpo velas, ora por êle.
No silêncio a que te recolhes, evoca os acontecimentos felizes a que êle se encontrava vinculado, os gestos de nobreza que o caracterizaram, as renúncias que se impôs e os sacrifícios a que se submeteu… Recorda-o lutando e renovando-se.
Não o lamentes, arrolando os insucessos que o martirizaram, as aflições em rebeldia que experimentou.
O chôro do desespero como as observações malévolas, as imprecações quanto às blasfêmias ferem-nos à semelhança de ácido derramado em chagas abertas.
De forma alguma registres mágoas ou desaires entre ti e êle, os vínculos da ira ou as cicatrizes do ódio ainda remanescentes.
Possivelmente êle te ouvirá as vibrações mentais, sem compreender o que se passa, ou sofrerá a constrição das tuas memórias que acionarão desconhecidas fôrças na sua memória, que, então, sintonizará contigo, fazendo que as paisagens lembradas o dulcifiquem – se são reminiscências felizes – ou o requeimem interiormente – se são amargas ou cruéis – fomentando estados íntimos que se adicionarão ao que já experimenta.
A frivolidade de muitos homens tem transformado os velórios em lugares de azêdas recriminações ao desencarnado, recinto de conversas malsãs, cenáculo de anedotário vinagroso e picante, sala de maledicências insidiosas ou agrupamento para regabofes, onde o respeito, a educação, a consideração à dor alheia, quase sempre batem em retirada…
E não pode haver uma dor tão grande na Terra, quanto a que experimenta alguém que se despede de outrem, amado, pela desencarnação!
Sem embargo, o desencarnado vive.
Ajuda-o nesse transe grave, que defrontarás também, quando, quiçá, êsse por quem oras hoje seja as duas mãos da cordialidade que te receberão no além ao iniciares, por tua vez, a vida nova…
Unge-te, pois, de piedade fraternal nas vigílias mortuárias, e comporta-te da forma como gostarias que procedessem para contigo nas mesmas circunstâncias.
“Deixai que os mortos enterrem os seus mortos”. Lucas: capítulo 9º, versículo 60.
“Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo”. Evangelho Segundo o Espíritismo – Capítulo 5º – Item 21, parágrafo 5.
FRANCO, Divaldo Pereira, Divaldo Franco. Florações Evangélicas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. LEAL. Capítulo 25.
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