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‘Quem tem câncer não tem que ser herói’, disse Marcia Cabrita
Uma das doenças com maior grau de sofrimento ao paciente, o câncer precisa ser encarado com fé, mas sem que isso deixe de lado o luto humano e inegável que toda a família acaba vivendo em momentos difíceis do tratamento.
Publicamos, a seguir, o texto da atriz Marcia Cabrita, que desabafa sobre a maneira que a sociedade impôs ela viver a doença.
Ela desencarnou dia 10 de novembro aos 53 anos.
Texto de Marcia Cabrita
‘Eu fiquei gravemente doente. Ao contrário do que muitos fantasiam, não tirei de letra. Não sei o porquê, mas existe uma ideia estapafúrdia de que quem está com câncer tem que, pelo menos, parecer herói. Nãnãninã não! Quem recebe uma notícia dessas não consegue ter pensamentos belos. Bem… eu não conseguia. A cobrança de positividade acabou se tornando um problema. Olhava-me no espelho branca, magrela e de cabelos curtinhos (antes de caírem) e achava que estava pronta para fazer figuração em “A lista de Schindler”. Achava que não tinha chance de sobreviver à cirurgia, só pessoas que não tinham maus pensamentos sobreviviam. Muitas vezes deixei de comprar coisas para mim porque tinha que deixar tudo para minha filha. Bem, se na minha cabeça era esse o pensamento que reinava… Sem chance.
O mundo moderno é incrível. Tudo é maravilhoso, não existe sofrimento! As separações são sempre amigáveis e sem lágrimas, as mães não têm mais o direito de embarangar e ficar em casa lambendo a cria. Um mês depois estão lindas, magras, com barriga sarada! Os atores não ficam desempregados, estão sempre felizes com um convite que ainda não pode ser revelado! Quimioterapia é moleza! Vem cá, só eu que não moro na Disney?
Hoje percebo que precisei viver esse luto. Ele passou. Apesar do medo, fui confiante para o hospital. Mas outras angústias vieram. Sofri pelo que é “o de menos”, chorei pelos cabelos, pelas sobrancelhas, pelos cílios e pelo… resto que vocês sabem. Chorei pelas dores, enjoos, injeções e tudo mais. Eu me dei esse direito. Eu me dei o direito de ser humana. A Mulher Maravilha mora na televisão, eu moro na Gávea mesmo. A Mulher Maravilha dá aquele giro e sai linda e poderosa correndo para salvar pessoas. Se eu fizesse a mesma coisa, cairia estabacada com a careca no chão. Então meu giro foi bem devagarzinho, segurando na mão de minha mãe, de minha irmã e de meus queridos amigos e familiares. Girei amparada por Dr. Eduardo Bandeira, por Virginia Portas, Dr. Celso Portela e todos os enfermeiros e profissionais de saúde que foram maravilhosos comigo’
Biografia de Marcia Cabrita
Filha de imigrantes portugueses, era a mais nova de duas irmãs. Estudou teatro. Em 1992, estreou na TV no elenco de As Noivas de Copacabana. Em 1997, entrou para o elenco de Sai de Baixo interpretando a empregada Neide. Deixou o programa em outubro de 2000devido a uma gravidez, sendo substituída por Cláudia Rodrigues.
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Posteriormente, participou de telenovelas da Rede Globo, atuando também no Sítio do Picapau Amarelo, nos papéis de sobrinha do seu Elias (2003), como Estelita (2005) e Cacá (2006).
Em março de 2010, foi diagnosticada com câncer de ovário, iniciando, então, tratamento contra a doença.
Foi casada com o psicanalista Ricardo Parente de 2000 a 2004; eles tiveram uma filha, Manuela.
Também fez uma participação na série do canal Multishow Vai que Cola, onde interpretou Elza Lacerda, a mãe do protagonista Valdomiro Lacerda (Paulo Gustavo).
QUAL A VISÃO ESPÍRITA DO CÂNCER?
Em 2017, voltou à Globo para integrar o elenco da telenovela Novo Mundo na pele de Narcisa Emília O’Leary, esposa de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”.[4][5]Inicialmente, iria interpretar a personagem Germana, mas, devido às complicações de sua doença, foi substituída nesse papel por Vivianne Pasmanter. Apesar da troca de papéis, a atriz precisou se afastar da trama para continuar o tratamento. Seu retorno estava confirmado para o último capítulo, o que não se concretizou. (Via Wikipedia)