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E quando a maternidade não vem?

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CENTRO ESPÍRITA LÉON DENIS

Que misterioso é esse amor, o de mãe?! Seja em que nível for, todos nós sentimos o tamanho dessa relação. Às vezes pacífica e cheia de enlevo; noutras um tanto tensa, é verdade. Mas criatura não há que nunca tenha experimentado o quão especial é estar ao lado de uma mãe, tê-la para deitar no colo, para acariciar sem compromisso os cabelos. Ter mãe, ser mãe, são tão naturais que muitas vezes não damos conta do quanto emana de amor de um coração feminino, de uma alma que pela sensibilidade em desenvolvimento, já é capaz de ficar acordada toda a noite, de deixar de comer o que gosta, de abrir mão de si quase que por completo, para que o plano de seu rebento seja possível!

Parece-nos que de todos os amores o materno é o que mais se aproxima da divindade, do servir sem desejar ser servido, que nos ensina Jesus; missão augusta para a qual toda mulher parece se inclinar, desejo de multiplicar, mas também potencial por dar segurança ao caminho nascente. Vemos muitas criaturas nascerem sem pai, mas todos precisam de uma mãe, seja ela a biológica, seja uma outra alma feminina, seja em que circunstância e idade for, que abriga, guarda, conduz, enfim: ama! Nossa gratidão às mulheres, que no dizer de João Evangelista¹, “são todas mães” e de alguma forma cumprem sua missão na Terra.

Estudemos oportunamente, o sentido espírita de missão, nas palavras de Kardec: “As missões dos espíritos têm sempre o bem por objeto. Quer como espíritos quer como homens, são encarregados de auxiliar o progresso da Humanidade, dos povos ou dos indivíduos, num círculo de ideias mais ou menos amplas, mais ou menos especiais, de preparar os caminhos para determinados acontecimentos, de velar para o cumprimento de certas coisas (…) O espírito se adianta, segundo a maneira pela qual cumpre sua tarefa”².

Em outras palavras: na Terra ou na erraticidade, sendo inferior ou superior, todos temos missões, tarefas a cumprir. Nesse âmbito, temos visto os Espíritos esclarecerem que a Educação é o de que mais puro pode ser oferecido ao Espírito, seja na infância física, seja ao longo de sua vida material, através dos mais diversos agentes, mas, sobretudo, pela família (material e espiritual). Se a esse aspecto adicionamos o elemento gestação da vida, vamos observando com acerto, o tamanho da missão em que se constitui a maternidade, pois por esse duplo serviço, a mãe oferece muito de seu ao reencarnante, que volta e viabiliza as condições para que, pela educação, ele absorva tudo quanto necessita. Vejamos ainda em O Livro dos Espíritos: “As funções a que a mulher está destinada pela Natureza têm uma importância tão grande quanto as que são atribuídas ao homem? Sim, e maior ainda; é ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.³”

Diante disso nos vai ficando claro que a maternidade se organiza como uma profunda missão com vistas ao futuro, pois é no endireitamento do caráter que agem os pais, mas, sobretudo, a mãe, que desde tempos remotos está mais ligada e por mais tempo ao filho. E isso mesmo, nos dias de hoje — que com a igualdade de direitos sociais das mulheres (muito justa, por sinal), que caracterizou a saída da mulher de casa em busca do complemento da renda (e às vezes da renda inteira, em casos quase heroicos), vemos o quanto um coração de mãe sofre, diante da decisão sempre tensa entre voltar ao trabalho após uma licença médica ou permanecer junto ao filhinho, por exemplo.

Parece-nos bem clara, por tudo isso, a informação espírita acerca da maternidade: é uma grande e bela missão, para a qual os espíritos são comumente previamente preparados, seja no mundo espiritual, com cursos e vivências, no sentido de compreender a diferença entre a casa e o lar, e forjar o melhor ambiente possível para essa doce missão que é educar; seja na Terra — quando da encarnação (e André Luiz narra diversos casos, destacadamente o de Missionários da Luz), as famílias, e principalmente as mães, recebem por antecipação a visita espiritual daquele que será seu filho, num tipo de aproximação fluídica, através da qual os perispíritos vão sendo “casados”, visto que nenhum consórcio na Terra é mais intenso do que o de uma gravidez, em que não só nutricionalmente, mas também do ponto de vista das emoções, o rebento depende exclusivamente de sua mãezinha.

Mas… e quando a maternidade não vem?

Tudo perfeito! Presidido por uma harmonia inequívoca, gerida por Deus num plano sensacional para a Vida e controlada por espíritos experientes e treinados no mister do amor!

Mas e quando, a despeito de seu plano, a meta pessoal, natural, não pode ser cumprida? E quando a mulher (que é sempre mãe) deseja, mas a reencarnação parece não querer se processar por ela? Será necessário aqui avaliarmos o assunto sob três aspectos: sentimentos cristãos para encaramento da situação; entendimento dos porquês e solução possível.

Sentimentos cristãos em desenvolvimento diante de uma frustração:

Queríamos estudar, mesmo que rapidamente, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, o texto central ao espírita-cristão “Obediência e Resignação”, do capítulo IX, item 8, onde encontramos a profunda afirmação de Lázaro “A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração”.

Ora, para se obedecer a uma determinada ordem basta usar da lucidez, entendendo que a ordem parte daquele que transitoriamente exerce o poder. Quase sempre o ser humano obedece não por concordar, mas por respeitar àquele que está numa posição superior. Vejamos no campo profissional: se o líder de um grupo determina como realizar tal tarefa, mesmo que eu pense diferente, o cumprimento do dever pede que eu deixe de lado minha opinião e dê razão ao superior.

Na prática, muitas vezes também não temos muito mais informações do que as “ordens” da vida; nem tempo para questionar se concordamos ou não. É uma boa dica, aprender a obedecer. Mas aqui o caso é outro, com o Espiritismo, a questão é renovada. Voltemos a Lázaro para compreender: Resignação é mais do que obediência! E por quê? Justamente porque além de lidar com o cérebro, com o cognitivo, entra em contato com o coração, ou seja, com a emoção. Saber passar a ser fundamental, pois para que o coração consinta, precisamos de explicação. Ninguém se resigna diante de uma dor, saindo da revolta à aceitação, sem que compreenda o porquê do sofrer; nenhum ser humano deixa de se questionar “por que comigo?” sem que uma resposta filosófica o tenha alcançado.

Veja bem, minha irmã, meu irmão: em Doutrina Espírita não obedecemos simplesmente à Lei, mas compreendemo-na, tendo certeza de que o que vivemos foi, naquela hora, o melhor para nós. Deus, como temos aprendido, é o que é, não só pelo que nos dá, mas também pelo que evita que tenhamos.

Uma mãe em potencial, que tem em si tudo o de que uma missionária nessa área precisa, não se resigna diante de uma frustração desse tamanho somente com a ideia de obediência a Deus. Quer-se saber os porquês. E a Doutrina dos Espíritos no-la confere.

Os porquês

Nunca e sempre são palavras proibidas, já que a generalização, principalmente nas coisas do espírito, quase sempre se torna fanatismo e às vezes até depressão. Mas não há como negar: as atribulações por que passamos nesta vida, segundo nos ensina a Doutrina Espírita, têm raízes claras, que podem ser de duas espécies: “As vicissitudes da vida são de duas espécies ou, se o preferirem, têm duas fontes bem diferentes que é necessário distinguir, porquanto umas têm sua causa na vida presente, outras, fora desta vida.4”

Sendo assim, podemos ter mais uma certeza: se a maternidade não vem; às vezes bate à porta, mas não vem, essa vicissitude não é à toa — ela é no mínimo necessária ao nosso aprendizado e crescimento, seja por erros que cometemos em um passado remoto ou recente, seja pela necessidade provacional do espírito reencarnante. Se tratamos com descaso a Lei de Deus no seu aspecto reprodutivo, se desdenhamos a educação como missão, se alinhavamos com indelicadeza as relações familiares, enfim, não temos certeza! Mas o que sabemos é que Deus é justo e é bom, de modo que nada está fora do lugar. Kardec se expressa acerca do assunto: “A desgraça que, à primeira vista, parece imerecida tem, pois, a sua razão de ser, e aquele que sofre sempre pode dizer: “Perdoa-me, Senhor, porque pequei. (…) Essas anomalias só existem na aparência porque são consideradas apenas sob o ponto de vista da vida presente; porém, se nos elevarmos pelo pensamento, de modo a abranger uma série de existências, veremos que a cada um é dado o que merece, sem prejuízo do que lhe cabe no mundo dos espíritos, e que a Justiça de Deus nunca é interrompida5”.

Esse seria o que a Doutrina chama de aspecto expiatório, mas Kardec nos alerta que ainda aí não se pode generalizar: “Entretanto, não se deve acreditar que todo sofrimento passado aqui na Terra seja, necessariamente, o indício de uma determinada falta; muitas vezes os sofrimentos são simples provas escolhidas pelo espírito para concluir sua depuração e apressar seu adiantamento.”

Em alguns casos, ao longo do tempo, a mãezinha vai recebendo “dicas” do plano espiritual acerca dos motivos pessoais, o que justifica caso a caso as ocorrências, mas vejamos que mesmo no campo genérico, os motivos globais clareiam as justificativas de nossas dores: reencarnados aqui estamos, e nosso passado nos acompanha!

Solução Possível

Dizíamos mais cedo: ah, o amor de mãe! E poderíamos sem medo de errar completar: ah, o amor de quem aprende a ser mãe dos filhos alheios! Pensemos como irmãos, filhos do mesmo pai: os papéis familiares, totalmente transitórios, servem exatamente para quê? Para nos ensinar a amar o amor de Deus: sem interesse, desprovido de condições, pronto a perdoar e dar outra oportunidade sempre! Ah, bendito o coração que aprendeu a amar livre das convenções, dos modelos preconcebidos como corretos! Viva a família espiritual e as condições que Deus nos permite viver.

Que possamos, nos caminhos do coração encontrar espaço para aquele rebento que pode chegar sem que seja pelo útero, mas que chega direto no colo, não necessariamente menos ligado a nós, pois os caminhos dos reencontros que Deus proclama são insondáveis e sempre perfeitos.

Deixaremos um relato emocionado e emocionante das novas escolhas, dos novos amores, a que a Doutrina Espírita nos guinda!

¹ O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 8, item 18.

² O Livro dos Espíritos, item 569 – nota de Kardec.

³ O Livro dos Espíritos, item 821.

4 O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5, item 4.

5 O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 5, itens 6, 7 e 8.

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