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40 mil cirurgias espirituais por mês no Instituto de Medicina do Além

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joão berbel

G1 | Rodolfo Tiengo

De um lado, uma foto do francês Hippolyte Rivail, ou Allan Kardec (1804 – 1869), conhecido como codificador do espiritismo. Do outro, um quadro do médico e ex-prefeito de Franca (SP) Ismael Alonso y Alonso (1908-1964).

Ao centro, o médium João Berbel, de 62 anos, que ora e canta diante de milhares de pessoas em busca de curas e respostas naquele que é conhecido como um dos maiores hospitais espíritas do país.

“O espírito vem e utiliza a pena das minhas mãos. Posso estar conversando com você ao mesmo tempo que tem um espírito utilizando as minhas mãos para fazer a cirurgia”, afirma.

Senhas, fichas de atendimento, farmácia, consultas e retornos. Tudo parece evocar um centro médico convencional no Instituto de Medicina do Além (IMA), complexo de oito mil metros quadrados localizado no Recreio Campo Belo, na zona norte do município. Mas por aqui o bisturi dá lugar à oração e à mediunidade de Berbel, que há mais de 20 anos realiza cirurgias espirituais gratuitas.

Segundo ele, o bem maior que tantos ali procuram é proporcionado pelo espírito de Alonso, concretizado pela imposição das mãos e do pensamento, sem cortes. “Todos os dons são mediúnicos, porque têm acompanhamento de uma ação espiritual, de uma energia magnética”, descreve Berbel.

O saguão principal funciona como antessala para as consultas e cirurgias espirituais, que acontecem às quartas e sábados. O reconhecimento daqueles que garantem ter obtido a cura mobiliza por mês até 40 mil pessoas de diferentes partes do país ou mesmo do exterior.

instituto de medicina do além

“É minha segunda casa. Em 1999, fiz uma cirurgia de diverticulite. Não podia comer nada que tivesse semente e fui curado”, afirma Augusto Raimundo, de 65 anos, encarregado de limpeza pública em Franca.

Para a diverticulite de Raimundo, uma gripe ou para o mais severo câncer, as intervenções mediúnicas, acompanhadas por medicamentos fitoterápicos produzidos na instituição, são aqui anunciadas como um poderoso complemento aos tratamentos convencionais.

“Quando a gente tem um problema, a gente tem que procurar um médico, um profissional da área da saúde para poder buscar exames que possam ver a origem da nossa enfermidade. (…) O médico cuida do corpo, os irmãos da luz cuidam da alma”, afirma Marcos Afonso de Almeida.

A ideia do presidente do IMA e um dos voluntários que lá atua é corroborada pelo médico José Sebastião dos Santos, professor de cirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP). Segundo ele, há evidências científicas de que a associação com a fé é benéfica a pacientes que recorrem a uma atividade complementar.

“Isso feito inclusive para algumas doenças, doenças crônicas tipo infarto, câncer, muitas vezes faz com que a pessoa que procura essa alternativa de tratar do corpo, mas também tratar da alma, do espírito, acabe se encontrando, adote bons hábitos e isso ajuda a melhorar a sua condição geral”, diz.

Realizada em segundos, com toque de algodão sobre a pele e curativos que mais exercem efeito visual sobre os atendidos, a cirurgia espiritual é apenas uma etapa do trabalho do IMA , que começa na consulta, semanas antes, passa por um tratamento fitoterápico e por uma dieta sem carne e bebida alcoólica.

“No dia de consulta, a pessoa é recepcionada, são distribuídas senhas a essas pessoas. Elas são acomodadas no nosso salão principal, o nosso atendimento tem início por volta das 20h, às quartas-feiras, e por volta das 12h no sábado”, explica o voluntário Wanderley Arruda, de 62 anos.

Em uma dessas quartas-feiras, a aposentada Normira Ferreira da Silva, de 71 anos, deixou Uberaba (MG) para ir a Franca com a irmã para tratar de dores na coluna e nas pernas. Para ela, o trabalho da cirurgia foi rápido, mas valeu a pena e rendeu os primeiros sinais de melhora. “Eu não sei nem te explicar, porque parece que você adormece”, conta.

Ao término das consultas e cirurgias, a sopa repleta de aromas e o chá de ervas como hibisco preparado pelos voluntários também adquirem papel especial na melhora e na acolhida dos pacientes, afirma José Telini, chefe da cozinha do IMA.

Segundo ele, em um único dia, são consumidos até 500 litros de sopa. “Fazemos um negócio diferente. Colocamos açafrão, colocamos muito hortelã, orégano. Nós colocamos bastante alho, cebola, tudo coisinha simples”, diz.

Dos alimentos servidos aos materiais usados na cirurgia, tudo que ali se utiliza é oriundo de doações, das vendas dos mais de 250 livros psicofonados por Berbel e editados pelo instituto e de créditos destinados pelo programa “Nota Fiscal Paulista”.

Por mês, a instituição tem um gasto médio de R$ 120 mil. “Não dê dinheiro aos nossos voluntários, ninguém nessa casa está autorizado a receber”, afirma o médium João Berbel.

Epilepsia e mediunidade
Assim como Bezerra de Menezes (1831-1900) e Chico Xavier (1910-2002), referências brasileiras do espiritismo, Berbel foi criado no catolicismo, em uma família agrícola de Restinga (SP). Na infância, o que mais tarde ele entendeu ser uma forma de mediunidade manifestou-se com epilepsias até então controladas com medicamentos de tarja preta.

“Às vezes eu caía, eu via meu corpo estendido no chão e as pessoas em volta de mim”, diz.

joão berbel

Manifestações que, de acordo com ele, somente acabaram em definitivo décadas depois, quando, ao conhecer o espírito de Ismael Alonso y Alonso, se convenceu de sua missão em ajudar o próximo.

“Naquele momento parecia que o chão tinha acabado embaixo de mim, tive medo, aquele medo, aquela coisa, aquele arrepio, aquelas coisas todas. E naquele transe mediúnico para mim, ele passando aquelas informações para mim”, descreve.

Hoje, atuar no centro espírita como intermediário de Alonso também representa para ele uma forma de se livrar dos próprios males, afirma Arlete Berbel, mulher do médium.

“O trabalho dentro da doutrina foi o remédio do João para se curar. No caso dele foi desenvolver a mediunidade. Ele está trabalhando até hoje, porque até hoje, se ele não trabalhar, ele vai para cama, ele fica doente”, afirma.

O trabalho de Berbel convenceu pacientes como a aposentada Cleusa de Souza Araújo, de 60 anos, que há dois anos frequenta a unidade em busca de tratamentos e palavras de conforto.

Ela garante que um tumor no fígado desapareceu depois de recorrer ao hospital espírita em Franca. “Se você tem fé é curada, não adianta vir aqui sem fé e sem fazer os retornos que não tem resultado. A fé cura, João Berbel é um instrumento.”

Para o médium, a resposta positiva de pessoas como Cleusa é o que tem ajudado o centro a crescer e ampliar sua função social.

Hoje, além dos trabalhos ligados à espiritualidade, sessões de cromoterapia e reiki, o instituto faz doação de cestas básicas a famílias carentes e atende crianças em situação de vulnerabilidade na Escola Madre Teresa de Calcutá, também ligada ao IMA.

A próxima etapa, segundo Berbel, é inaugurar um hospital para pacientes terminais com câncer, esperado há anos. Em fase de ajustes finais, a estrutura anexa ao prédio do IMA deve entrar em funcionamento ainda este ano, diz o médium.

“A gente vê uma dificuldade tão grande de uma família toda que está com o doente e não sabe o que faz, não pode manter num hospital, porque às vezes é caro, não pode pagar. Nós queremos trazer para cá essas pessoas e acreditar que milagre existe e que não devemos nunca perder a esperança.”

Se depender de voluntários como José Telini, há 15 anos no IMA e um dos mais velhos da casa, esse é só o começo. “A gente tem amor pelo trabalho que a gente faz.”

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