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Pai adotivo de 684 jovens, Divaldo Franco recebe homenagem

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Divaldo Franco

CORREIO BRAZILIENSE | Deborah Fortuna

No dia em que viu um espírito pela primeira vez, Divaldo, à época com 4 anos, não tinha ideia do rumo que a vida tomaria nos anos seguintes. Enquanto brincava na sala de casa, uma senhora apareceu. Sem medo, chamou pela mãe. Ela brigou: “Não há ninguém aqui”. Mas, nos olhos do garoto, aquela senhora de idade era tão real quanto qualquer pessoa de carne e osso. Foi ali, no município de Feira de Santana (BA), que a história começou. Hoje, aos 90 anos, Divaldo Pereira Franco é um dos médiuns mais cultuados pela Federação Espírita. Viajou por 70 países, visitou 2,5 mil cidades, montou uma comunidade para crianças em situação de vulnerabilidade social e foi homenageado como uma das personalidades que construíram um mundo melhor em uma solenidade, ontem, na Câmara dos Deputados. 

O riso é frouxo, a fala é mansa e a aparência, impecável. Com nove décadas de idade, Divaldo tem simpatia de sobra e espalha amor. Pelo menos, é essa a mensagem que ele quer passar a todos os jovens: a de que o mundo tem violência demais e que, agora, é necessário enchê-lo de boas ações. “Quando amamos e desdobramos o sentimento de amor, o mundo se torna melhor, porque nós nos tornamos melhores. Nós temos inimigos, mas é importante não ser o inimigo de ninguém”, afirmou. Pelas ações, Divaldo foi homenageado pela Câmara dos Deputados. Em 2005, ele recebeu o título de Embaixador da Paz no Mundo, concedido por uma universidade em Genebra.

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06/10/2017. Crédito: Minervino Junior/CB/D.A. Press. Brasil. Brasília – DF. 90 anos de Divaldo. O médium, orador espírita e Embaixador da ONU pela Paz, Divaldo Pereira Franco, durante entrevista para o Correio Braziliense.

684 adoções

Ao longo da vida, o médium se dedicou a trabalhar com crianças em situação de vulnerabilidade social. Em 1952, ao lado de Nilson de Souza Pereira, outro divulgador do espiritismo, criou o complexo Mansão do Caminho, que atende a 3 mil crianças de baixa renda em um bairro da periferia de Salvador. Ao todo, 684 jovens foram adotados por ele — hoje, alguns são emancipados e casados, com filhos e netos. “Recebi uma informação de que deveria criar um lar para receber crianças órfãs. Então me dediquei a recebê-las. Hoje, nós temos um complexo muito moderno. Atendemos mais de 5 mil pessoas e procuramos lhes dar o máximo possível”, disse. O lugar tem 83 mil m² e 50 edificações para atender todo o público que busca por assistência, como escola, creche e centro de saúde. O espaço, inclusive, é a casa de Divaldo, que, apesar de sair do interior, nunca deixou de morar no estado. 

Como divulgador da doutrina espírita, Divaldo publicou 250 livros. Foram distribuídos 8 milhões de exemplares para 17 idiomas. O dinheiro arrecadado com a venda dos livros, gravações de palestras, DVDs, vai para a Mansão do Caminho. Em 1949, inciou a psicografia e escreveu diversas obras sob a orientação da guia espiritual Joanna de Ângelis.

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Homenagem

A Câmara dos Deputados recebeu um evento de comemoração e homenagem à vida e à obra do médium baiano. Houve uma sessão solene e a entrega do Troféu Você e a Paz a cinco homenageados: Juscelino Kubitschek de Oliveira, Remanso Fraterno, Jerônimo Mendonça Ribeiro, Joana Angélica de Jesus e Dom Bosco, personalidades que trabalharam em prol da Paz para a humanidade. Sobre a homenagem que recebeu, Divaldo é enfático: “Vai estimular outras pessoas a se dedicarem ao bem. E o bem compensa a nós próprios. O bem que fazemos nos faz um grande bem”. 

Divaldo também é homenageado na exposição Os Pacificadores, em cartaz no Espaço Cultural da Federação Espírita Brasileira, na 603 Norte, em horário comercial. O objetivo é lembrar pessoas que se dedicaram a tornar o planeta um lugar melhor. A mostra retrata as histórias de personalidades como Gandhi, Martin Luther King Jr, Nelson Mandela, Madre Tereza e Chico Xavier, em prol da paz para a humanidade.

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Primeiras manifestações

Apesar do reconhecimento, o caminho não foi sempre fácil. Ainda na adolescência, Divaldo teve que encarar julgamentos, descrenças e chegou a ser levado para psiquiatras, que o identificaram como esquizofrênico. A história de mediunidade teve início quando uma senhora apareceu na sala de casa enquanto ele brincava e pediu para que o menino chamasse pela mãe, Ana. “Então ela disse: ‘Diga que é Maria. Eu sou sua avó’. Para mim, aquilo foi uma surpresa porque eu não sabia o que era uma avó, porque os meus já haviam desencarnado. Quando eu disse isso, ela ficou assustada, porque ela nunca tinha pronunciado o nome da própria mãe”, contou.

Com a revelação, Ana levou o filho até a casa da irmã. E ele disse para elas a mensagem que a avó desejava. “A partir daí, eu comecei a ter contato com espíritos. Embora católico — eu confessava, fazia promessas —, quanto mais eu me concentrava orando no santíssimo altar, mais eu via”, revelou.

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Dom

Mesmo com as visões que o acompanham desde os quatro anos, o dom foi descoberto por uma outra médium, anos depois. Divaldo estava abalado pela morte de um irmão mais velho e não conseguia mais andar. Passou por consultas médicas, mas nada conseguiu resolver o problema. Foi com a ajuda da outra médium que se libertou da situação. Segundo ela, a paralisia se tratava do irmão desencarnado. “Ela disse que não era uma doença, mas uma perturbação espírita pelo fato de eu ser médium.”

O problema é que Divaldo começou a ter problemas dentro da Igreja Católica, já que o padre dizia que o ato era pecado. “Para mim, era uma pertubação contínua, porque eu não sabia do que se tratava e, como o sacerdote disse que era uma interferência demoníaca, para poder me tirar da igreja, isso me apavorou”, disse. Divaldo contou que chegou a ter um período de descrença, mas sempre algum espírito vinha e o aconselhava para o bem. “O mal não pode fazer bem. O meu sacerdote dizia que era uma forma de me seduzir, uma farsa. Mas essa ‘farsa’ durou cerca de 13 anos, até eu me convencer de que eram forças poderosas, que estavam me chamando para o caminho do bem”, comentou.

Além da igreja, os problemas se refletiram no trabalho. “Eu era funcionário público e via muitas pessoas chegarem ao balcão, me chamavam, conversavam e eram pessoas desencarnadas. Eu tive muitas dificuldades com meu chefe, porque ele achava que era alucinação”. Nessa época, o chefe o levou ao psiquiatra, que também confirmou a alucinação. Em uma das sessões, Divaldo disse que chegou a ver o espírito do pai do profissional junto a ele. “Ele disse que, se não fosse alucinação, então era esquizofrenia ou personalidade múltipla, mas não me convenceu. Então eu resolvi não fazer nenhum tratamento psicológico”, afirmou.

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