ARTIGOS
Você está insatisfeito com a sua vida?
VIANNA DE CARVALHO | Divaldo Franco
A insatisfação, que medra, assustadora, numa
avalanche crescente. em todos os arraiais da
Sociedade terrena, procede, de certo modo, da
programática educacional das criaturas que,
desde cedo, recebem orientação e adestramento
em moldes eminentemente imediatistas, como se
a vida devesse abraçar. apenas, o estreito limite
entre o berço e o túmulo…
Centralizando todas as aspirações no trâmite
carnal, o triunfo, conforme os padrões
hedonistas, tem como finalidade à aquisição de
valores para o gozo, o destaque na comunidade,
a tranqüilidade que decorra de um estômago
saciado, um sexo atendido e as vaidades
estimuladas…
No entanto, mesmo quando tal ocorrência vem
de ser lograda, acompanhada de emoções
estésicas, eis que o sonhador da roupagem
carnal se depara com outro tipo de necessidade
que deflui do espírito, no seu processo de
reeducação pelo impositivo reencarnacionista.
O homem não são, exclusivamente, as suas
necessidades orgânicas e emocionais que se
enquadram na argamassa fisiopsicológica.
O berço e o túmulo representam, no processo da
evolução, meios de que se utiliza a Sabedoria
Divina para que o ser indestrutível entre e saia
do corpo, adquirindo experiências. fixando
aprendizagem, modelando caracteres, crescendo
na fraternidade e santificando o amor, que
arranca das expressões do instinto de posse
para a sublimação através da renúncia e do
sacrifício…
Concebendo a vida como um jogo fugaz de
sensações, em que o homem dotado de recursos
amoedados mais é feliz porque mais consegue,
coloca todas as ambições no estreito
condicionamento da posse material, que
amargura, quando escassa e frustra. quando
farta.
De forma alguma os valores da rápida aquisição
conseguem produzir no homem a verdadeira
harmonia, tendo-se em vista que, impelido pelo
próprio instinto de preservação da espécie, se
não vigia, mais ambiciona, quanto mais detém.
A posse, no entanto, de forma alguma faculta
equilíbrio emocional. Quando é abundante,
produz o receio da perda, estimulando a
existência dos fantasmas do medo de perder a
posição e os recursos que lhe significam a vida…
E, quando é exígua, favorece a escravidão ao que
se gostaria de possuir, como fuga psicológica às
inquietações quase sempre injustificáveis.
O homem deve arrimar-se nos valores éticos,
que ele próprio constrói a pouco e pouco em si e
à sua volta, compensando-se no ideal altruísta,
com que desata as emoções superiores que lhe
jazem em gérmen, crescendo moralmente e
superando as injunções do cárcere físico,
mediante cuja ascensão consegue a lucidez que
lhe dá a perfeita visão da vida e lhe dilata os
horizontes em torno do que lhe convém e do que
deve fazer.
Situando as metas da existência além dos
prazeres transitórios e frustrantes, irmanado à fé
libertadora, com que se arma de resistências
para a dor, para o mal, para os distúrbios de
qualquer natureza, logra superar-se e planar
além de quaisquer vicissitudes negativas, através
de cujo comportamento fruirá a real felicidade.
Não cobiçando mais do que lhe é lícito reter; não
se afadigando em demasia pelas aquisições
transitórias; não se antecipando sofrimentos
advindos do receio do futuro; não vivendo
exclusivamente para o corpo, os insucessos
aparentes são convertidos em lições que
amadurecem para os próximos
empreendimentos, fixando o bem em si mesmo,
com que se ala nos rumos do Bem Incessante
após a vilegiatura orgânica, libertando-se das
vestes físicas com a alegria do escafandrista que
retorna à tona, concluída a tarefa feliz no seio
das águas profundas…
A insatisfação que a tantos amargura, enferma e
conduz a distonias de largo porte, pode e deve
ser combatida através de uma pauta salutar de
objetivos e de diretrizes evangélicas, conforme
Allan Kardec extraiu dos conceitos morais das
insuperáveis lições do Cristo, fazendo do
Espiritismo o mais completo compêndio de
otimismo e de sabedoria conhecido nos tempos
hodiernos.
Reflexionando em torno dos valores reais, como
dos aparentes, o homem de bem, inteligente,
que sente necessidade de mais profundas e
nobres aspirações para ser feliz, mergulha a
mente e o sofrimento no exercício do amor, em
seu sentido mais elevado, defrontando a
grandeza da vida e realizandose por fim em paz.