Seu marido é seu karma?

RECANTO DAS LETRAS | Victor Sérgio de Paula

As palavras “carma”, “destino”, “livre-arbítrio”, sempre provocam no ser humano, em geral, algumas dúvidas, questionamentos de natureza existencial, porque ainda que não tenhamos qualquer crença religiosa, mesmo sendo o mais “convicto” materialista, nossas dores morais e físicas, nossa felicidade e desditas, os acidentes de percurso da vida, despertam-nos para as realidades da alma humana.

– Ah, esse é meu destino, meu carma ! – Muitas e muitas vezes temos ouvido afirmativas como essa, de pessoas de diferentes classes sociais, cultura, profissão, religião, orientação sexual, e outros indicadores, conferindo às palavras carma e destino o mesmo significado: errado!

CONCEITOS DE CARMA, DESTINO E LIVRE-ARBÍTRIO

Segundo o “Novo Mini-dicionário Escolar – Língua Portuguesa” de Dormival Ribeiro Rios as palavras carma, destino e livre-arbítrio, possuem a seguinte definição:

Carma – as primeiras noções da lei de causa e efeito, segundo a qual a cada ação corresponderá, no plano moral ou físico, uma reação, revelando as causas do destino do destino do homem. Peso do destino que uma pessoa carrega (grifo nosso).

Destino – encadeamento de fatos determinados por leis necessárias ou fatais. Fatalidade. Fado. Sorte(grifo nosso).

Livre-arbítrio – opção que o homem tem para decidir e escolher o que lhe convém (grifo nosso).

Primeiramente, na definição da palavra “carma” existe explícito, segundo observamos em nosso grifo, a idéia de carma=peso do destino a ser carregado por uma pessoa, ou seja, todo carma é um peso.

Quanto ao “destino”, a noção clara de que os acontecimentos em nossas vidas estão predeterminados, e de que ficamos ao “sabor da sorte”, é cristalina como água pura.

Diante de conceitos tão fechados, rígidos, como pode valer em nossas vidas de espíritos imortais, ainda que atualmente encarnados, o tão almejado e necessário livre-arbítrio? Afinal, podemos ou não, decidir e escolher o que nos convém?

Nossa reflexão é no sentido de harmonizarmos os conceitos de carma, destino e livre-arbítrio, retirando-lhes os conteúdos deterministas, para uma visão ampla e transcendente, mais adequada com os aspectos educacionais e retificadores da reencarnação. A doutrina codificada por Alan Kardec trouxe uma compreensão profunda sobre a alma humana, abrindo horizontes ao homem, ao considera-lo um ser em franca evolução.

Na pergunta nº 132 do Livro dos Espíritos, Kardec questiona sobre qual seria o objetivo da encarnação? A resposta cristalina é : “- A lei de Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de faze-los chegar à perfeição …”. Em nenhum momento aparece a palavra sofrimento, fado, dor, ou qualquer outro termo, que signifique “FATALIDADE”.

A palavra “carma” não é mencionada em nenhum momento por Kardec, ou pelos espíritos comunicantes das obras básicas, entretanto, como sinônimo de ação, a cada nova existência o homem progredirá inexoravelmente, até atingir a perfeição, como estipulado no penúltimo parágrafo do RESUMO DOS PRINCIPAIS PONTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA: “Mas também nos ensinam que não há faltas imperdoáveis, que não possam ser apagadas pela expiação. Pela reencarnação, nas sucessivas existências, mediante seus esforços e desejos de melhoria no caminho do progresso, o homem avança sempre e alcança a perfeição, que é a sua destinação final”.

A expressão “mediante seus esforços e desejos de melhoria” deixam bem esclarecido, que o livre-arbítrio do ser humano é a sua grande ferramenta evolutiva, inexistindo determinismos e fatalidades.

Ainda com relação ao destino, utilizado como sinônimo de fatalidade, Kardec pergunta aos espíritos, na questão nº 851 do Livro dos Espíritos:” Haverá fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa palavra, ou seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como fica o livre-arbítrio? – A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito faz ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das provas de natureza física,porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir …”.

Analisando superficialmente a resposta, podemos concluir que o espírito humano escolhe o tipo de vida que irá desfrutar durante sua encarnação – logo, não há destino – e, que o livre-arbítrio é a grande alavanca da evolução, a todos nós que estamos encarnados no planeta.

A liberdade de escolher nosso próprio destino, todos os dias, torna-se o diferencial entre os gênero humano e os animais inferiores, que ainda, não podem discernir entre o bem e o mal, o certo e o errado, o moral e o imoral.

Evoluir é o nosso destino, como evoluir – pelo conhecimento ou através da dor – é sempre uma questão de ESCOLHA.

Daniel Polcaro: