CORREIO ESPÍRITA | Marcus Vinicius de Azevedo Braga
Francisco, estudioso da Doutrina Espírita, palestrante, praticamente criado no centro, passava por um período conturbado em sua vida, daqueles que todos nós vivenciamos, nas quebradas da reencarnação.
Saudades de um parente desencarnado, problemas no ambiente profissional, arrependimento por posturas adotadas, confusão diante das decisões… Aquela nuvem negra pairava sobre a cabeça de Francisco, que andava para lá de atormentado.
Amigo do trabalho indicou a Francisco uma dita casa espiritualista, na qual os médiuns, incorporados, davam consultas aos visitantes. Disse lá ser muito bom e que com certeza encontraria a ajuda que buscava.
Meio ressabiado, Francisco tomou o rumo do templo indicado no dia agendado, é lá se juntou à fila de consulentes. Na vez anterior à sua, o espírito, com o linguajar apropriado daquela circunstância, orientava uma mulher que havia sido abandonada pelo marido. Na vez de Francisco, curiosamente, o espírito manifestante deixou de lado o linguajar típico e de forma sutil perguntou o que ele fazia ali, no mais puro vernáculo.
Francisco, meio envergonhado, narrou suas angústias e o espírito, de maneira firme e afetuosa, informa-o que ele já detinha os elementos necessários à superação daquela situação, recomendando que ele lesse determinado capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo e que não descuidasse da prece e da vigilância dos pensamentos.
Nosso consulente sorriu para o espírito, percebendo o puxão de orelha fraterno, agradeceu a orientação e seguiu reflexivo, com disposições renovadas para a mudança de atitudes.
André Luiz, na obra Agenda Cristã, psicografia de Chico Xavier, afirma que “Não viva pedindo orientação espiritual, indefinidamente. Se você já possui duas semanas de conhecimento cristão, sabe, à saciedade, o que fazer”. Gandhi, conforme obra de Humberto Rohden, dizia que “(…) se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”. Os caminhos evolutivos são simples na teoria e complexos na prática.
Conselhos diretivos provocam mudanças, mas o primado é da reflexão. Ignoramos o tesouro que trazemos, nos conhecimentos libertadores da Doutrina Espírita, um manancial que esclarece, consola, orienta e que nos dá base segura para prosseguir. Não é adorno, é ferramenta de evolução, colete salva-vidas nas situações difíceis, farol nas nossas decisões, chave libertadora dos medos.
A prática espírita nos apresenta ferramentas que trazem autonomia ao religioso, como o estudo que fomenta a reflexão, a prática que abranda o coração e a reunião mediúnica de socorro aos espíritos sofredores, que nos trazem uma percepção produtiva do fenômeno mediúnico.
Faz-se necessário reconhecer a dádiva do espiritismo vivo e praticado e de como ele pode servir de instrumento para a nossa encarnação. Fórmulas mágicas, atalhos, rituais, simbolismos, elementos naturais do espírito encarnado e que nos ajudam a nos encontrar, mas que podem nos escravizar a forma. A tática espírita vem munida da reflexão vinculada à prática e tem um caráter libertador, que nos possibilita prosseguir, a passos firmes.
Cada credo, cada segmento trabalha a espiritualidade dos seus, de acordo com a cultura, com a afinidade, a história e o seu grau de entendimento. A doutrina espírita apresenta um caminho, por nós escolhido, que também possui os elementos necessários para a nossa libertação espiritual, nos possibilitando avançar sem muletas.
Quem nunca tomou seu puxão de orelha? Quem nunca esperou uma palavra mais diretiva dos espíritos? O convite posto é a caminhada e o espiritismo é um dos caminhos nos permite isso de maneira autônoma, consciente, em um desafio da nossa tarefa de evolução, que aceitamos pouco a pouco, a cada dia.