CORREIO ESPÍRITA | Djalma Santos
“A punição mais imediata, sobretudo, entre os que se acham ligados à vida material, em detrimento do progresso espiritual, consiste na lentidão do desprendimento da alma do corpo físico; nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida; e na consequente perturbação, que pode se prolongar por meses ou anos a fio. (Alan Kardec – O Céu e o Inferno – 1ª parte – Cap. VII. Item 22)
Decorridos milênios da nossa evolução espiritual no Planeta Terra, o homem terreno ainda não se conscientizou a respeito da responsabilidade diante da vida, e principalmente diante da morte. Milhares de pessoas acreditam que depois da morte tudo fica fácil, porque ocorre um sono profundo em que só se acorda no juízo final ou, ainda, que depois da morte tudo fica zerado, quando na realidade a morte não transforma as pessoas em santas ou sábias, e sim leva cada um de nós, exatamente como estamos. Ou seja: levamos o céu ou o inferno, que construímos dentro de nós mesmos.
Uma das maiores dificuldades do ser humano é entender o que se passa com o desencarnado logo após atravessar as águas enigmáticas do rio da morte, ou seja, ser considerado “morto” e desaparecer das vistas materiais dos humanos, causando dores e sofrimentos, desencanto e saudades, sem que as pessoas que ficam possam perceber ou analisar os dramas que a maioria dos desencarnados passa, principalmente quando morrem atrelados aos vícios, desejos e paixões, comprometidos com os tipos de crimes, falcatruas, escândalos, apropriações indébitas, roubos, assaltos, sequestros, pedofilia e sensualidade. Nesses casos, a perturbação costuma iniciar até mesmo antes da morte, deixando o candidato ao desencarne apreensivo e nervoso – ou impaciente –, como se alguma coisa o incomodasse, e é o que realmente ocorre: a perturbação antes da morte, devido ao medo do que vai encontrar do outro lado da vida.
Todos aqueles que se entregam aos prazeres fugidios da vida material e agem com completa indiferença aos bens espirituais, vão se sentir totalmente inadaptados e incompetentes para vivenciar a vida dos espíritos, e geralmente se sentem isolados, sombrios e medrosos no além, passando a sofrer todo o tipo de desequilíbrio e angústia pelo difícil desligamento do espírito do corpo físico.
A escravização dos sentidos materiais aos prazeres da vida terrena, valorizando mais os desejos e as emoções temporárias da vida, que são corolários do egoísmo e do orgulho, fazem com que o espírito imortal, esse andarilho do infinito, esse nômade do espaço, possa experimentar todo o tipo de sofrimento, antes de se desligar completamente do corpo físico, que deverá ser levado à sepultura. Muitos espíritos acompanham a roupagem carnal inerte no caixão até ao cemitério, e ali permanecem por longo tempo, dependendo, é claro, da gravidade dos crimes e do comprometimento com o mal. E a pior situação é certamente a do suicida, ou de criminosos de faltas hediondas, que no mais das vezes costumam visualizar seus corpos sendo devorados pelos vermes, que são os carrascos invisíveis, já em estado latente do próprio organismo humano, e que afloram através do fenômeno “morte”.
A justiça divina é rigorosa e profundamente correta em seus princípios, aplicando punições a todos aqueles que diretamente ou indiretamente induziram outras pessoas ao sofrimento ou ao erro, e geralmente a culpa se constitui de maior gravidade, por ser o agente causador do transtorno direcionado para os outros. Muitas vezes, numa simples brincadeira de mau gosto, ou intrigas bem acalentadas pela ignorância, ou ainda, a zombaria dita inocente, provocam dores e sofrimentos aos nossos irmãos de luta, quedas incríveis e até o suicídio, e isso sem falar do relacionamento afetivo-sexual nos quais encontramos desajustes sombrios, quando uma das partes lesa os interesses do outro, estabelecendo um clima de cisão e desconfiança, que geralmente deságua em desgraça e tragédia.
Quando maior for a materialização mental do espirito, maior será a sua perturbação espiritual no além, porque acostumado exclusivamente a lidar com as coisas materiais, dificilmente enxergará qualquer cena espiritual; e estará diretamente ligado aos bens terrenos com os quais viveu intensamente, sofrendo diuturnamente pela falta desses bens; e pela falta de uma estrutura espiritual que pudesse libertá-lo dos grilhões representados pelos tesouros da Terra. A perturbação do espírito infrator pode levar meses ou anos a fio, até que se recupere a lucidez mental, chegando ao arrependimento e ao remorso, que são antídotos eficazes para o início das reparações necessárias à libertação espiritual.
A punição do espírito imortal nunca parte de Deus e sim dele próprio, pois já se encontra gravado em sua consciência imortal que após a morte do corpo físico, se transforma num juiz severo e implacável, analisando e catalogando todas as nossas faltas, ajuizando-as, e preparando um processo de reparações que obrigatoriamente teremos que realizar, não para satisfazer desejos dos outros, mas para satisfazer a própria mente imortal que só se sentirá livre, plena e estudante, depois do término das reparações, numa prova cabal e completa que crime e castigo caminham juntos, e que podemos fugir de todos e de tudo, mas não podemos fugir de nós mesmos.
A melhor maneira de fugir das perturbações depois da morte é descartar as viciações, os ilícitos e os pecados que infantilmente cometemos enquanto vivos, desobedecendo as Leis dos Homens e principalmente as Leis Divinas, que são mais rigorosas e punem até os nossos pensamentos, enquanto as Leis dos Homens podem ser adulteradas, modificadas a bel prazer dos poderosos, sendo burladas a todo momento, devido à ignorância de que, do outro lado da vida, tem uma outra Lei interna que caminha conosco e vai nos cobrar ceitil por ceitil a fim de que possamos nos aclimatar aos desígnios divinos e partir para a iluminação espiritual.