O que você passa é tristeza ou depressão?

CORREIO ESPÍRITA | Iris Sinoti

“Apresentando-se em caráter pandêmico, a depressão avassala os mais variados segmentos sociais, arrastando verdadeiras multidões ao terrível distúrbio de conduta”.1

Confirmando todas as previsões, a depressão é hoje uma doença tão presente na sociedade que para alguns profissionais ela é uma reação “perfeitamente normal”, tornando-se preocupante somente quando interfere nas atividades diárias. Será?

Uma pessoa saudável se sente bem, então não podemos considerar que um estado depressivo seja um estado saudável. O fato de um número considerável de pessoas viverem em estado depressivo não o torna a condição normal do homem e da mulher modernos.

Sabemos que nem sempre estamos alegres, pois nem as crianças ficam nessa condição todo o tempo. Mas o fato de não estamos sempre alegres não significa que estejamos deprimidos. Independente de estamos alegres ou não, precisamos estar bem em nossa vida, ou seja, uma sensação de bem-estar, de encontrarmos satisfação em tudo o que fazemos, dessa forma, mesmo que por alguns momentos estejamos tristes, não apresentaremos depressão.

A tristeza não é sinônimo de depressão, mas se nos encontramos constantemente tristes, muito provavelmente a causa dessa tristeza pode nos revelar a origem do estado depressivo. Entrar verdadeiramente em contato com nossas emoções é passo fundamental para encontrarmos respostas sobre nós mesmos.

Então, será que estamos confundindo tristeza com depressão? Será que não estamos diagnosticando demasiadamente questões pessoais que precisam ser resolvidas, patologias sociais que precisam ser vistas como uma doença, e consequentemente buscamos nos medicar para resolver o que achamos ser depressão? O psiquiatra norte-americano Allen Frances, ex-diretor do guia de referência mundial para doenças psiquiátricas, acredita que sim, e alerta que “estamos transformando os problemas diários em transtornos mentais e tratando-os com comprimidos”. 2

Sempre que abandonamos questões importantes na vida estas voltam a nos atormentar, sejam na vida presente ou no passado distante, como afirma Joanna de Ângelis3: “Toda existência humana obedece a uma planificação cuidadosa, mediante a qual acrisola os sentimentos que se ampliam, facultando à inteligência penetrar na indefectível Lei de Causa e Efeito”. É claro que não estamos aqui afirmando que ao entristecermos estamos sob a lei do retorno, mas que a tristeza pode ser um chamado da alma para que voltemos nossa atenção ao que realmente importa, pois se não estivermos atentos estaremos falhando no mesmo ponto que por certo já nos equivocamos muitas vezes.

E justamente por estarmos tão profundamente comprometidos com a vida, mesmo que inconsciente, sabemos que precisamos realizar algo importante para o nosso espírito e esse impulso só pode ser encontrado quando mergulhamos profundamente em nós, e se ficarmos prostrados não encontraremos os talentos a nós confiados.

Quando ficamos demasiadamente tristes perdemos o entusiasmo, a vida passa a ser percebida pela óptica pessimista e inflexível “não adianta nada”, “eu não consigo”, o que de certa forma mantem a tristeza alimentada. Ora, se estamos desistindo antes mesmo de tentarmos todas as alternativas, deveremos nos perguntar: Realmente tenho fé? E depois: Por que estou escolhendo a tristeza? Sem dúvida encontramos aqui um conflito e esse não é o problema, na verdade é a solução.

Como falei acima, precisamos nos sentir satisfeitos com o direcionamento que estamos dando a nossa vida, o que significa que deveremos nos conectar com a felicidade real, claro que tristeza não é o oposto de felicidade, mas se não estivermos sincronizados com o sentido real da vida escolheremos a tristeza como fio condutor e inevitavelmente confundiremos o nosso sinal de alerta com uma doença. E porque a depressão é no momento ainda tão pouco compreendida, perdemos a chance de crescer e escolhemos a dor. Mas tudo é sempre uma questão de escolha!

Daniel Polcaro: