CORREIO ESPÍRITA | Doris Madeira Gandres
“O nascimento e a morte não são dois estados diferentes, mas sim aspectos diferentes do mesmo estado”.
Mahatma Gandhi
Seria interessante se pudéssemos parar para refletir sobre essas palavras de Gandhi… Se pudéssemos realizar, nos darmos conta, de que estamos “indo e vindo”, “nascendo e morrendo”, há inúmeros milênios… Se pudéssemos efetivamente interiorizar, enquanto encarnados, que somos em verdade espíritos imortais, desde a fração mais ínfima de milionésimo de segundo da nossa criação…
Vemos ainda na atualidade, depois de longo percurso no tempo, espíritas e espiritualistas em geral perplexos diante da realidade dessa transição, assustados e até surpresos, como se “nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar” não fosse uma lei natural à qual todos (e tudo) estamos submetidos.
Atualmente fala-se e escreve-se tanto sobre transição, entendendo-a geralmente mais como destinada aos mundos do que às criaturas; contudo, aplica-se a toda criação. Podemos dizer que a impermanência é parte integrante da lei de progresso – nada permanece estático, inalterado indefinidamente, muito menos nós, espíritos em evolução. Nós estamos em transição a todo momento, física, mental, intelectual e espiritualmente, não apenas quando mudamos para os estágios evolutivos, como dizemos, mais avançados. Muda o nosso aspecto físico, a nossa saúde física; muda a nossa maneira de pensar, de ver e entender as coisas e as pessoas, mudam o nosso nível intelectual e cultural.
No entanto, ainda temos dificuldades em lidar com a mudança de estado.
E quando nos vemos diante da proximidade dessa transição em relação a nós próprios, sentimos a mesma dificuldade… Muito frequentemente nem queremos pensar nessa passagem, muito menos falar nela ou nos prepararmos para ela… Vivemos como se tal fato nunca fosse acontecer conosco… Como disse o companheiro de ideal André Trigueiro, em seu texto Linhas Tortas (jornal Correio Fraterno nº 471): “Mergulhados na existência, a distração parece ser a regra, e a dispersão nos conduz pelas correntezas da vida”.
No livro O Céu e O Inferno, Capítulo II, itens 1 a 9, Allan Kardec faz um estudo detalhado sobre o temor da morte:
Ainda nesse estudo, o mestre Kardec afirma que “à proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui; uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim com calma, resignada e serenamente”.– ele diz que diminui… Na nossa presente estatura espiritual ainda não podemos pensar que estaremos inteiramente livres desse temor >– até porque, se temos a certeza da vida futura e igualmente a certeza de que a estamos elaborando enquanto a caminho, de forma melhor ou pior, em conformidade com nossos atos, palavras e pensamentos durante esta existência que ora palmilhamos, sabemos também que ainda teremos que arcar com certas consequências, algumas vezes menos agradáveis…
No item 10, o último do citado estudo, Kardec demonstra a razão porque os espíritas não temem a morte. De minha parte, eu diria que Kardec foi bastante otimista com essa afirmação – pelo menos por enquanto… É certo que a Doutrina Espírita, como ele declara, muda inteiramente a maneira de se encarar o futuro, o mundo espiritual aparece-nos na plenitude de sua realidade prática e que a confiança decorre, outrossim, dos fatos testemunhados e da concordância desses fatos com a lógica, com a justiça e a bondade de Deus, correspondendo às íntimas aspirações da Humanidade.
E não carece dúvida de que a maior aspiração das humanidades através dos ‘multiversos é a felicidade, é a paz de espírito, é o que Jesus ensinou como sendo “o reino de Deus em nós”.
Bibliografia:
O Céu e O Inferno, Kardec Allan – Cap.II, ítens 1 a 9 e Item 10