JORNAL NACIONAL
Pesquisadores brasileiros deram passos importantes para o diagnóstico precoce da depressão. Estima-se que a doença atinge mais de 300 milhões de pessoas.
A infância foi de uma menina feliz.
“Eu era bem animada, tinha muitos amigos”, diz a estudante Paula Diniz.
Mas na adolescência a depressão chegou sem aviso e mudou tudo.
“Ela me puxava mais do que a gravidade, ela me puxava para a cama assim, porque às vezes eu queria tentar lutar contra isso, mas juro que não dava”.
A incompreensão sobre a doença que pode atingir uma em cada quatro pessoas durante a vida é uma dor a mais.
“É muito difícil e não dá para explicar assim, tudo o que você não quer é ter que explicar o que você está sentindo porque na verdade nem você sabe”, conta Paula.
E se muito antes desses sintomas terríveis fosse possível prever e prevenir a depressão?
Esse sempre foi um grande desafio para medicina e o estudo brasileiro chamado “Projeto Conexão” encontrou pistas e respostas importantes: elas estavam no cérebro de crianças e adolescentes antes mesmo da depressão aparecer.
Usando ressonância magnética e um programa especial de computador, psiquiatras e pesquisadores da USP e das universidades federais do Rio Grande do Sul e de São Paulo mapearam o cérebro de 675 crianças.
“Existem várias redes dentro do cérebro, redes de conexão, que se conectam como se fosse a rede de metrô. E elas são responsáveis por comunicar toda informação que nós temos e processamos dentro do cérebro”, explica Pedro Mário Pan, psiquiatra da UNIFESP.
O estudo, publicado no jornal da Associação Americana de Psiquiatria, revelou que a rede responsável pelo sistema de recompensa e motivação do cérebro tem um padrão diferente de atividade que indica a tendência à depressão. O que foi possível identificar graças ao longo tempo da pesquisa que começou em 2009.
“A avaliação, depois de três anos, mostrou que 53 jovens apresentavam um quadro de depressão. E quando nós olhamos lá, na imagem do cérebro, precocemente, três anos antes, nós já encontramos que esta rede de recompensa estava hiperativada num ponto específico. Então é um marcador precoce, que precede, vem antes do quadro clínico da doença”, afirma o psiquiatra.
A descoberta aumenta a chance de evitar que a depressão se instale, usando medidas preventivas, como se faz com outras doenças. O estudo vai continuar para confirmar o que mais ajuda.
A Paula enfrenta a dela com apoio médico e compartilhando suas histórias na internet com quem precisa lutar tanto pelo prazer de viver.
“Eu tenho vontade de mostrar para eles que tem como melhorar e mostrar também como foi, como eu passei o que eles passam, que eles não estão sozinhos nessa, que a gente pode conseguir superar”, diz Paula.