É possível saber como vou desencarnar?

ANTÔNIO CARLOS NAVARRO

Se há uma certeza em nossas vidas, é a do retorno ao Mundo Espiritual, que é de onde viemos.

Sendo a vida física uma etapa na vida do Espírito, o momento de transição entre o estado de encarnado e de desencarnado varia de pessoa para pessoa raiando o infinito, mas sempre de acordo com a individualidade espiritual.

Allan Kardec propôs aos Espíritos Superiores:

“O Espírito sabe por antecipação como desencarnará? – Sabe que o gênero de vida escolhido o expõe a desencarnar mais de uma maneira do que de outra…” (1)

Comum são os relatos a respeito de pessoas que pareciam ter conhecimento do desencarne, pelas atitudes tomadas anteriormente, ou ainda, pela forma com que tocaram direta ou indiretamente no assunto. Isso confirma a informação dada pelos Espíritos Superiores, porque o acaso não faz parte das Leis Universais.

Sobre o instante da morte física perguntou Kardec:

“A separação se opera instantaneamente e por uma transição brusca? Há uma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?

– Não; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo subitamente libertado. Esses dois estados se tocam e se confundem de maneira que o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o retinham no corpo físico: eles se desatam, não se quebram.” (2)

Observamos, pela resposta acima, que mesmo nas mortes instantâneas o espírito retém “ligações” com o corpo sem vida, se não pelos laços físicos, também pelos laços desenvolvidos por seus valores e vícios morais.

Seria o caso de perguntarmos: o que exerce influência no desprendimento do espírito de seu corpo físico sem vida?

“Pois, onde está o teu tesouro, ali estará também o teu coração” (3), esclareceu-nos Nosso Senhor Jesus Cristo, como a nos dizer que os laços do sentimento nos vincularão a tudo o que nos é caro ao espírito, sejam coisas, propriedades ou pessoas, pois que estas últimas também consideramos como propriedades nossas.

“Amém vos digo que tudo que ligardes sobre a terra, estará ligado nos céus” (4) também disse Nosso Senhor Jesus Cristo. Aqui, por céus podemos entender Mundo Espiritual, o que significa que mesmo do “lado de lá”, mantemos os laços firmados aqui, inclusive na transição entre o estado de encarnado para o de desencarnado.

Necessário se faz, portanto, incrustarmos em nossa cultura de vida a consciência da precariedade dos laços que nos prendem ao mundo físico, incluindo às pessoas, que também são espíritos em evolução.

As enfermidades fatais, e muitas vezes as de longo curso, tornam-se períodos de meditação a respeito dos valores pessoais diante da vida, permitindo um melhor preparo íntimo para a transição e readaptação ao mundo espiritual.

Não se deve entender, no entanto, que o desprendimento das coisas e pessoas deste mundo cheguem ao despautério de nos tornarmos frios e insensíveis. O que se espera é tão somente que saibamos trabalhar os sentimentos do espírito imortal, administrando a influência que as coisas do mundo exercem sobre nós, tirando o devido proveito para crescimento espiritual, porque, se é fato que estamos reencarnados, também o é que um dia vamos desencarnar.

A Doutrina Espírita tem todas as ferramentas necessárias para trabalharmos nossos valores íntimos, dando-nos o ensejo para o devido preparo para a grande transição que, embora já a tenhamos experimentado muitas e muitas vezes, ainda se faz presente com muito peso em nossa forma de viver a vida física.

Pensemos nisso.

Referências:
(1) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 856;
(2) O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 155 a;
(3) Mateus, 6:21;
(4) Mateus, 18:18.

Daniel Polcaro: