Como nos livrar das tentações?

CORREIO ESPÍRITA | Itair Ferreira

A oração sincera a Deus é sempre um elo com os Espíritos, mensageiros celestiais, encarregados de nos fortificar na trajetória da vida.

Jesus nos ensinou a orar, deixando-nos como modelo, a prece mais cantada em todo o mundo, o Pai Nosso (1), que sintetiza todas as necessidades reais da criatura humana. Entretanto, essa oração passou a ser feita maquinalmente, evitando-se atentar para o significado de seus versos no processo de fuga de nós mesmos.

Esta oração do Pedagogo Inigualável é pequena, clara e objetiva, a fim de não nos perdermos em interpretações filosóficas, dogmáticas e esotéricas. Mas proferimos seus versos com tanta rapidez que nos distraímos do seu conteúdo, ignorando sua essência, adaptando-a às nossas conveniências.

Assim, em toda ela. Na frase da oração livra-nos do mal, por exemplo, queremos entender que nada de ruim nos acontecerá. Após proferi-la, estaremos isentos de acidentes, não ficaremos doentes, não teremos problemas financeiros, nem a morte ceifará nossas vidas ou as vidas dos nossos entes queridos. Existem aquelas mães, em suas simplicidades religiosas, que afirmam, com uma convicção eivada de pureza: — entreguei meu filho, ou minha filha para Nossa Senhora, nada de ruim lhe acontecerá!

Essas atitudes passam a crença da existência de privilégios divinos, como se alguns de nós estivéssemos na Terra num período de férias e que somente a felicidade poderíamos colher nessa passagem.

Se o motivo principal de nossa estada neste planeta é evoluir, como responderam os Espíritos superiores a Allan Kardec, quando ele perguntou: — Qual o fim objetivado com a reencarnação?

— Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde há justiça? (2)

Sendo assim, como entender que livrar-nos do mal, é tirar-nos o objetivo principal de nossa existência, que é evoluir?

Jesus recomendou-nos, antes de propor esta frase, livra-nos do mal, a primeira, não nos deixeis cair em tentação. Aí é que se encontra o verdadeiro objetivo do pedido.

Pedimos a Deus nessa frase que nos ajude a preservar o mundo íntimo, a acalmar nossas mazelas interiores oriundas de nossas experiências na esteira do tempo. Rogamos a Deus que nos dê forças para não nos deixar sucumbir, de novo, às tentações, desviando-nos da sua Lei, que é a única verdadeira para a felicidade (3), que está inscrita em nossa consciência (4), que é o espírito imortal.

Por fim, como nos livrar das tentações da riqueza, da luxúria, da gula, do alcoolismo, das drogas, dos jogos de azar ou de qualquer outro vício que nos aprisiona a alma?

Da forma seguinte: após a rogativa sincera, não nos deixeis cair em tentação, temos que usar o poder de decisão, o querer, que é a vontade. Palavras diferentes, porém, com significado único. Fé, vontade e querer são a mesma e única palavra. (5)

Jesus disse: Tudo é possível ao que crê (6). Crer é ter fé e fé é a vontade de querer.

Roberto Assagioli, criador da Psicossíntese, uma vertente da Psicologia, que mostra o propósito e o significado da vida humana facilitando o autoconhecimento, diz em seu excelente livro O Ato da Vontade: A função da vontade é semelhante à do timoneiro de um navio. Ele sabe qual deve ser o rumo e mantém firmemente o braço na direção certa, apesar dos desvios causados pelo vento e pela correnteza”. (7)

As predisposições instintivas que trazemos ao nascer não constituem obstáculos à nossa evolução, se utilizarmos o esforço e a vontade, como nos afirmaram as Entidades Sublimadas:

“Não há, porém, arrastamento irresistível, uma vez que se tenha a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder”. (8)

“Apesar do destino inflexível, há uma força em nós que dele independe, como origem de todas as nossas ações e pensamentos. Somos obreiros da trama caprichosa das nossas próprias vidas. As mãos que hoje cortam as felicidades alheias, amanhã se recolherão como galhos ressequidos nas frondes verdes da Vida. As iniquidades de um Herodes podem desaparecer sob o manto de renúncia de um Vicente de Paulo”. (9)

Quantas personalidades importantes na sociedade: empresários, líderes religiosos e políticos deixaram-se levar pelas tentações dos ouropéis e dos prazeres ilusórios e efêmeros, caindo desastrosamente. Que pena!

Portanto, peçamos a Deus: Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Não o mal necessário à nossa evolução, e sim, aquele mal moral, que depende da nossa escolha, das tentações em que nos deixamos sucumbir, porque nunca há fatalidade dos atos morais. (10)

Muita paz!

Notas bibliográficas:

1 – A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Mateus, 6: 9 a 13.

2 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 2ª, capítulo IV, questão 167 – Feb.

3 – Idem, ibidem, parte 3ª, capítulo I, questão 614 – Feb.

4 – Idem, ibidem, questão 621.

5 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec – capítulo XIX, item 12, Feb.

6 – A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Marcos, 9, 23.

7 – Século XXI – A Era do Sentimento – Itair Rodrigues Ferreira – pág.60 – Emican editora.

8 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3ª, capítulo X, questão 845– Feb.

9 – Crônicas de Além-túmulo – Espírito Humberto de Campos – Francisco Cândido Xavier – Lição 11 – Feb.

10 – O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – Parte 3ª, capítulo X, questão 861– Feb

Daniel Polcaro: